Câncer: Um Alerta Necessário na Saúde Pública Brasileira

OPINIÃOSAÚDE PÚBLICA

10/18/20242 min read

person lying on bed and another person standing
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Nos últimos anos, a saúde pública no Brasil tem enfrentado uma transformação alarmante. Um estudo recente da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), publicado na renomada revista Lancet Regional Health – Americas, revela que, em 727 municípios brasileiros, o câncer se tornou a principal causa de morte, superando as doenças cardiovasculares (DCV). Este dado destaca a gravidade da situação e exige nossa atenção urgente.


Em 2000, apenas 366 municípios (7% do total) registravam o câncer como a principal causa de morte; em 2019, esse número saltou para 727, representando quase 100% de aumento. Essa mudança significativa nas causas de mortalidade ao longo das últimas duas décadas não pode ser ignorada.


Como médico e presidente da Comissão de Saúde, considero fundamental que invistamos em campanhas de conscientização, prevenção e diagnóstico precoce. O câncer não deve ser visto como um veredito fatal, mas sim como uma doença que podemos enfrentar com informação e os cuidados adequados. A educação em saúde é uma ferramenta poderosa que pode salvar vidas, e precisamos agir rapidamente diante dessa nova realidade.


O estudo da Unifesp também destacou a desigualdade no acesso aos cuidados de saúde, especialmente em municípios com menor desenvolvimento econômico. É fundamental que as políticas de saúde pública sejam adaptadas às realidades locais, garantindo a todos o acesso a tratamentos adequados e informações sobre prevenção.


Ademais, o aumento da expectativa de vida, o envelhecimento da população e fatores de risco como tabagismo, consumo excessivo de álcool, obesidade e sedentarismo tornam o desafio ainda mais complexo. Enquanto a mortalidade prematura por doenças cardiovasculares caiu 29% entre 2000 e 2019, a mortalidade prematura por câncer aumentou 9%. Esses dados evidenciam que estamos aquém das metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, que propõem uma redução de um terço na mortalidade prematura por doenças não transmissíveis até 2030.

Diante desse cenário, o estudo esclarece a transição epidemiológica, e também mostra a importância de uma abordagem integrada que considere fatores sociais, econômicos e de saúde.


Minha atuação na Fundação de Saúde Dilson de Quadros Godinho, em Montes Claros, me permite compreender de perto a realidade dos pacientes. Tenho buscado promover iniciativas que informem a população sobre a importância de hábitos saudáveis e da detecção precoce do câncer. Realizo frequentemente audiências públicas para discutir o tema e encontrar soluções que ampliem o acesso aos serviços de saúde. Além disso, divulgo campanhas de conscientização, como o Outubro Rosa e o Novembro Azul, e abordo essas questões no “Minuto Saúde”, um programa semanal que mantenho nas minhas redes sociais.

Não podemos ignorar a urgência dessa questão. A luta contra o câncer requer ações concretas, que se iniciam com a conscientização e prevenção. O conhecimento é uma chave poderosa para reduzir os índices dessa doença e, consequentemente, proteger vidas. Assim, faço um chamado a todos os cidadãos, gestores e profissionais da saúde: é necessário um compromisso coletivo para enfrentar essa realidade e garantir um futuro mais saudável para todos os brasileiros.